Terra-Alvo: Por Que o Planeta Está Sendo Tratado Como um Corpo a Ser Domado
Explora a forma como a Terra tem sido submetida a um processo de dominação simbólica, tecnológica e econômica, como se fosse um corpo sem alma a ser explorado e moldado à imagem do poder humano.
temasglobais.com
5/31/20253 min read


Este artigo investiga a lógica histórica e contemporânea por trás da objetificação do planeta, revelando como ciência, indústria e política transformaram a Terra em um “objeto de controle”. A análise integra perspectivas filosóficas, ecológicas e mitopoéticas para questionar o futuro de uma civilização que trata seu lar como uma máquina e não como um organismo vivo.
A Terra respira, sente e geme. E se estivéssemos errados em tratá-la como um recurso inerte? O que acontece quando esquecemos que habitamos um ser vivo?
Por Que o Planeta Está Sendo Tratado Como um Corpo a Ser Domado
Durante milênios, a humanidade viveu em relação simbiótica com a Terra. Rituais agrários, mitologias antigas e visões espirituais viam o planeta como uma mãe, uma deusa, um corpo vivo pulsando com alma. Mas algo mudou. Da Revolução Científica ao tecnocapitalismo atual, passamos de reverência à dominação. A Terra deixou de ser “quem” para se tornar “o quê”.
Hoje, escavamos suas entranhas como se fossem minas sem fundo. Alteramos seus climas como se fôssemos engenheiros cósmicos. Inserimos chips em suas florestas, turbinas em seus céus e redes de sensores sob seus mares. A Terra tornou-se um alvo: de lucro, de cálculo, de controle.
O Corpo Que Querem Reprogramar
O termo “terraformar”, tornar outro planeta parecido com a Terra, escancara a ironia: estamos desfigurando nosso planeta para transformá-lo em algo que talvez nem desejássemos viver. Satélites mapeiam cada centímetro, sistemas climáticos são modificados artificialmente, e até o DNA de organismos naturais começa a ser “editado”.
Essa tentativa de remodelar o planeta como uma extensão da racionalidade humana ecoa a antiga obsessão com o corpo feminino na psicanálise: domar o instinto, controlar a fecundidade, subjugar o caos fértil.
O Fim do Encantamento do Mundo
A natureza deixou de ser encantada para se tornar um “problema técnico”. Perdemos a linguagem dos rios, o canto das pedras, o silêncio das montanhas. Nesse vazio simbólico, o que sobra são gráficos, metas de produtividade, e modelos de extração.
Mas ao reduzirmos o planeta a um sistema mecânico, também nos reduzimos a peças da engrenagem. É a lógica do biopoder aplicada ao mundo inteiro.
O Risco de um Planeta-Paciente
Cada decisão de controle climático, cada tentativa de geoengenharia, reforça a ideia de que a Terra está “doente” e precisa ser “tratada”. Mas será que ela está doente ou somos nós que perdemos a escuta?
Tratar o planeta como um paciente é perigoso, pois legitima intervenções drásticas que favorecem corporações e elites tecnocráticas. É a farmacologização da biosfera, onde o remédio vira veneno.
Rumo a uma Cosmopolítica do Cuidado
Precisamos reencantar a relação com o planeta. Isso não significa romantizar a natureza, mas reconhecer sua agência, sua complexidade, sua alteridade. Pensadores como Bruno Latour já propuseram uma “cosmopolítica”: uma forma de governo onde a Terra tenha voz, e onde o cuidado substitua o domínio.
Se a Terra é um ser vivo, então habitá-la é um ato de intimidade, não de conquista.
A Terra Não é um Alvo, É um Espelho
A forma como tratamos o planeta revela como tratamos a nós mesmos. A exploração desenfreada do solo, da água e do ar é também uma exploração de nossos próprios corpos, emoções e ancestralidades.
Talvez o verdadeiro “desenvolvimento sustentável” seja este: desenvolver uma nova consciência, onde o mundo não seja mais um campo de batalha ou laboratório, mas um templo vivo.
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